Por Flávia Tavares
01.11.2010
Dilma evitou discurso feminista em campanha ambígua, construída com base na imagem de 'subalterna' de Lula
O vocabulário do brasileiro ainda não deu conta da novidade. A partir de hoje, os eleitores se dividem entre os que chamam Dilma Rousseff (PT) de "presidente" ou "presidenta". Não há unanimidade sobre se ela é a primeira mulher presidente ou a primeira presidente mulher do Brasil. O fato é que a petista colocou, pela primeira vez, as mulheres no mais alto posto da República. E o vocabulário certamente se adaptará ao novo cenário.
A chegada de Dilma ao poder foi construída com base em ambiguidades na questão de gênero. A campanha da petista se apropriou de imagens intrinsecamente femininas, embora ultrapassadas. Associou a candidata ao título de "mãe do PAC" ou de "mulher do Lula" e tornou Dilma uma sucessora palatável, já que "subalterna" ao futuro ex-presidente. "Isso foi intencional. Se o continuador fosse um homem, parte do eleitorado, sobretudo o masculino, poderia achar que o sucessor logo teria autonomia e se desligaria de Lula", explica Fátima Pacheco Jordão, diretora do Instituto Patrícia Galvão, socióloga e especialista em pesquisas de opinião. Ela lembra que Dilma foi trabalhada para ser feminina "na aparência física, na contemporaneidade de seu cabelo". "Ela foi se aperfeiçoando para ser mais feminina e não para se transformar numa ‘coronela’."
Dilma também evitou formular políticas e propostas claras para as mulheres. Sempre reforçou o discurso de que poderia ser "a primeira presidenta" do País, mas comprometeu-se pouco em atender aos interesses femininos. "É uma questão de conveniência eleitoral. Em temas delicados como planejamento familiar ou saúde, que era uma franquia forte do opositor, Dilma foi cuidadosa em seu programa", diz Fátima, lembrando que Michelle Bachelet, primeira presidente do Chile, prometeu, ainda em campanha, compor um gabinete paritário, com 50% de ministros de cada sexo. "Prometeu e cumpriu", completa Fátima. Continua